segunda-feira, 18 de maio de 2015

O palhaço pobre

Ele era um palhaço,
um palhaço homem,
estava no meio da praça
a esbracejar, a dizer que tinha fome,
e gritava, amaldiçoava, ria,
saltava, fazia malabarismos e piruetas,
nos intervalos declamava poesia,
sabia os poemas de cor,
sabia até o nome dos poetas,
mas ele era um palhaço pobre,
pobre e mascarado de dor

Os espectadores riam,
chamavam-lhe maluco, doido,
uns vinham, outros iam,
de repente, o palhaço parou,
parou e olhou em redor,
depois circulou,
os seus olhos pediam calor,
as mãos algum auxílio,
mas, como não houve mais espectáculo,
foi-se embora o espectador,
ficou o silêncio, o vazio,
e nem um cêntimo no receptáculo

E o palhaço pobre chorou,
sim, ele chorou,
vi as lágrimas a escorrerem no seu rosto
de pó de arroz,
sim, ele ficou só com o seu desgosto,
e chorou

Aproximei-me mais dele,
fixei o meu olhar naquele rosto triste
e depositei cinco euros na sua alcofa,
depois aplaudi:
- Ola, ¿Dónde es usted?
- Olá, sou de Lisboa
- Bienvenido a Madrid