sexta-feira, 29 de maio de 2015

Os lobos

Descem da montanha
os lobos
e assustam o povoado
com os seus uivos,
são os espíritos malignos
que aproveitam a meia-noite para cantarem no adro,
dizem as bruxas, as que dançam no cemitério
à mesma hora badalada pelos sinos
da torre da igreja, é um mistério
do demónio que encanta as almas
que ardem no inferno,
são esses fantasmas
que uivam à meia-noite
no meio das fragas

Descem da montanha
os lobos famintos
para comer o que há
no povoado,
não há que comer na montanha,
nem no povoado,
mas os lobos não desistem,
ainda estão fortes
e o povoado fraco,
não come, sofre de alucinações,
só reza as orações das mortes,
todas as noites há visões,
transfigurações, aparições,
e o povoado, distraído pelas pregações,
é comido pelos lobos

De barriga cheia,
os lobos voltam à montanha
que, entretanto, recuperou a teia
da sua mesa farta, da sua pujança,
e reúne-se a alcateia
para agradecer à governança,
a alcateia está, outra vez, de barriga cheia,
viva o poder do mais forte,
no povoado só ficam uma velha e uma criança,
e a morte