quinta-feira, 7 de maio de 2015

Vou mudar de rumo

Sou pedreiro,
construo castelos de pedra,
castelos efémeros,
são castelos de casinhas,
mas são os meus castelos,
são castelos de pedrinhas,
uns feios, outros belos,
alguns são pesadelos

Sim, sou pedreiro,
construo castelos de poemas
que não se seguram ao chão
nem ao canteiro,
seguram-se às minhas penas
e ao meu tinteiro

Nos meus castelos
não vivem reis, rainhas, donzelas,
bobos, pagens, príncipes, princesas,
os meus castelos não têm brasão,
nem torres, nem armas, nem ameias,
nem prisão

Por isso, os meus castelos ninguém os vê,
compreendo,
um castelo tem de ser altaneiro,
nele deve assobiar o vento,
nele deve pernoitar o romeiro

Mas vou mudar de rumo,
vou ser carpinteiro,
vou comprar um serrote, uma enxó,
uma plaina, uma fita métrica, limas, grosas,
um arco de pua, um formão, uma verruma,
vou fabricar caixinhas de madeira
para guardarem amores, beijos, rosas,
vou forrá-las com carinho e sumaúma,
depois vou vendê-las à feira

Sim, vou mudar de rumo,
vou ser marceneiro,
vou talhar a dura madeira
do carvalho, ou do castanheiro,
para fazer com ela corações eternos
como os diamantes,
uns grandes, outros pequenos,
mas todos vestidos de vermelho,
depois vou oferecê-los aos amantes
para que não deixem morrer o amor,
nem de novo, nem de velho