domingo, 31 de maio de 2015

A Florbela

Há muitos anos, fui passar a tarde dum domingo
ao baile das sopeiras na encosta do Parque,
serviam lá cerveja, couratos, tremoços, verdinho,
valsas, boleros, marchas, tangos, e também muita arte
e manha no jogo da vermelhinha

Dancei com a Florbela, era sopeira
numa pensão à Estefânia,
tinha vindo há pouco da Madeira,
lá era muita boca a comer
e a dormir na mesma cama
- aqui, os restos da ceia
chegam para se dormir sem doer

Disse-me que eu dançava bem
e que tinha ar de saloio,
à segunda marcha já gostava de mim
e perguntou qual era o meu poiso

- Uma camarata, Florbela,
uma camarata com vista
para o saguão por uma minúscula janela
e não esperes nada de mim,
sou um utópico pessimista
e não faço nada para ser feliz

Algum tempo depois encontrei a Florbela
numa rua ao Intendente,
- sabes, já não sirvo sopas,
mas aqui tenho que ser sempre quente,
mesmo quando bato o dente,
e foge daqui, este sítio não é para lorpas,
foge, foge, antes que te piquem as pulgas

A Florbela continuou o seu passeio
e eu fugi dali,
mas a Florbela era bela, muito bela,
nunca mais a vi