domingo, 12 de julho de 2015

Enquadrando o tempo

Acordo e ouço o tempo,
muito sol no continente,
nortada no norte e centro,
no sul, vento do poente

Ouço o tempo que faz,
que está ou que vai fazer,
o que passa já não está
e passou sem nada dizer

O tempo que passa, voa,
tem uma rota, um destino
e nada o abalroa,
segue sempre o seu caminho

O tempo voa e passa
por nós, mas não o sentimos
a passar, nem o ouvimos,
passa por cima, perpassa

Mas envelhece-nos, mói-nos,
cruza-nos com tempestades,
raios, coriscos, demónios,
alegrias, ansiedades

O tempo passa por nós
e nós temos que ocupá-lo
com o nosso corpo e voz,
dentro do nosso espaço

O tempo passa por nós
e nós passamos o tempo,
mas há quem o mate só,
e quem o perca pra sempre

E cada um de nós tem
o seu tempo, não há mais,
há-que aproveitá-lo bem
porque ele não volta atrás

Amanhã quero acordar
novamente a escutar
o tempo, se o meu tempo
me deixar chegar a tempo

Estou eu assim modorrento,
quando uma voz me reclama:
- acorda, salta da cama,
estás a perder o teu tempo

E também me diz o tempo:
- levanta-te, companheiro,
na cama e pachorrento
perdes tempo e dinheiro

Sigo a voz e o tempo
salto da cama alfazema,
lavo o meu pensamento
e escrevo este poema