quinta-feira, 9 de julho de 2015

A vida deste mar imenso

Estou na praia e o mar está ali,
calmo, sereno, maré vazia,
entrei nele há pouco,
mas só me molhou os pés,
não gostou de mim,
pois é,
este mar imenso
seduz-me, droga-me
e depois não me deixa entrar no silêncio
do seu ventre,
se lá entro, afoga-me

Por isso só vejo o que se passa
à flor da sua água

Se está bravo,
ruge, fustiga, enerva-se, escuma,
suga as pesadas nuvens de chuva,
cria grandes ondas para, uma a uma,
morrerem na praia,
numa cama de espuma,
ou contra as rochas,
num choque de raiva

Se está calmo,
é um vasto espelho de água
onde a Lua espalha
os seus cabelos de prata
e onde o Sol se esconde
para lá do horizonte

E não consigo ver mais nada
que seja dele

Ó mar imenso,
por que razão não me mostras
a vida que tens no teu ventre?
por que razão me afogas
se eu entrar por ti adentro?

Responde-me, ó mar imenso,
pode ser com um remoinho,
com um bramido mais intenso,
com um guincho de um golfinho,
pode ser como quiseres,
mas responde-me, ó mar imenso

E nada, ele não me responde,
só me manda ondas e marés,
ó, quem me dera ser anfíbio,
ó, quem me dera ser esponja,
ó, quem me dera ser tudo,
para poder mergulhar no infinito
profundo