sexta-feira, 7 de agosto de 2015

A nascente do Lis

Desta fonte escondida
no sopé do meu monte
não corre água fresquinha,
não chora a minha fonte

Secaram-lhe as lágrimas,
não chora a minha fonte,
já me secam as rimas
desta pena de bronze

Mas se há sons no monte,
a cigarra, o zângão,
a sombra, o horizonte,
o calor do Verão

Mas se há sardaniscas
e outros rastejantes,
lagartos, lagartixas,
cobras arrepiantes

Mas se há o alecrim,
o tojo, o rosmaninho,
a silva, o capim,
a ruína dum moinho

Mas se há a branca pedra
da cor da pura neve
onde o calcário medra
e o sol se embebe

Mas se há tanta coisa,
tanto cheiro no ar,
tanta ave a voar,
tanta ave que poisa

Porque não brota água
desta fonte do monte?
- é o monte que a guarda,
diz-me a santa do monte

- Ó Senhora do Monte,
ainda bem que m'atendes,
faz com que esta fonte
liberte os seus duendes

E aguardo um milagre,
ou uma aparição,
mas foi reza em vão,
só veio um milhafre

Que me valham as rimas
e as musas que m'as ditam,
que me valham as ninfas
e a luz que irradiam

Acordem esta fonte,
esta fonte das Fontes,
onde acabam os montes
e o rio Lis desponta