quinta-feira, 17 de setembro de 2015

A vida é uma passagem

Dizem que a vida do Homem é uma viagem
que não acaba neste mundo,
dizem que ela continua, dizem que ela passa
para a outra margem,
mas alguém sabe como é essa outra margem?

As respostas que eu conheço são dogmas,
e, portanto, não as discuto, é assunto sagrado,
até aceito as diversas formas
dessa margem do outro lado
descritas nas diferentes escrituras,
todas elas sagradas,
mas ontem ouvi umas bruxas
que liam em coro as seguintes palavras:

«A vida do Homem é uma passagem
que acaba no fundo das trevas,
morra ele impregnado de fé,
morra ele a arrotar ódios e guerras,
morra ele em paz, se a houver

E este Homem não merece melhor:

Porque ele não foi ensinado a amar;
porque ele matou a esperança;
porque ele queimou o mar;
porque ele não sabe ser criança;
porque ele não sabe celebrar a vida;
porque ele só sabe celebrar a morte;
porque ele farta-se de matar

Sim, este Homem farta-se de matar,
e, pasme-se,
ele ri-se quando mata, sim ele ri-se
quando mata,
este Homem não passa de uma besta,
sim, quando mata ele ri-se,
sim, este Homem é a Besta,
a Besta do Apocalipse,
sim, este Homem incarnou o mal,
sim, este Homem incarnou o espírito maligno,
sim, este Homem é o fim,
e o mundo acaba para o Homem
quando nascer o Sol
no meio do Pacífico
no dia cinco ...»

E fugi dali,
não ouvi mais aquelas bruxas,
subi ao meu quinto piso
e perguntei-me: para quê ter dúvidas?
a outra margem fica no Paraíso,
e pronto,
assim rezam as sagradas escrituras
e os seus pregadores,
quer os que as pregam ponto por ponto,
quer os que acrescentam um conto,
e agora vou tentar dormir tranquilo, sem suores