O penedo de granito
Ele é escuro, imponente,
redondo, está suspenso
naquela encosta,
mas não se desprende,
nem rebola
É um penedo de granito,
nem lhe toco,
deve ser duro e radioactivo,
também não será oco,
nem arenito
Olhem, ali vai um pastor,
um pastor menino,
sobe a encosta com o seu rebanho,
um amor,
olhem, não me engano,
o menino e o seu rebanho
pararam junto ao penedo,
não têm medo
Gritei-lhes, saiam daí,
não se encostem a esse penedo,
ele pode rodar e cair
no vale e esmagar o arvoredo,
mas eles não me estavam a ouvir
O rebanho pastava a erva em flor,
pachorrento, tranquilo,
o penedo de granito, também tranquilo,
dava abrigo ao pastor,
parecia ser seu amigo
E eu muito aflito,
ai que aquele penedo vai rebolar,
ele tem vida, ele tem coração,
ele tem energia, ele está vivo,
ele está acima do chão,
ele vai rebolar,
e eu, muito aflito,
grito:
- cuidado, esse penedo de granito
vai rebolar
pela encosta abaixo,
ele está acima do chão, ele está no ar,
ele vai rebolar
Desce o pastor a encosta,
vem direito a mim,
terá ouvido o meu grito?
- Ó senhor, não viu por aí um cabrito?
afastou-se do meu rebanho e perdi-o,
é só prejuízo, estou aflito,
sou um humilde pastor de rebanhos,
subo e desço estes vales de granito
a guardar os cabritos e os anhos
do meu dono rico,
e ai de mim se perco algum, ai de mim
- Boa tarde, rico menino,
não vi nenhum cabrito
tresmalhado,
mas se eu o vir,
encaminhá-lo-ei para ti
- Bem haja, meu bom senhor
- Espera, pastor menino,
não te assusta aquele penedo
de granito?
- Ó não, dele não tenho medo,
é o meu abrigo,
escondo-me nele quando tremo
de frio, de fome, de medo
O pastor menino
voltou a subir a encosta,
irá a chorar?
não, não, ele não chora,
não, ele não pode chorar,
ele é rijo, ele tem que ser rijo,
ele tem que ser rijo,
rijo como o penedo de granito