quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Um poema do meu sótão

Amor livre,
amor impossível,
amor à primeira vista,
amor hippie,
amor utópico,
amor à Woodstock,
amor desgosto,
amor a arder no fogo
do inferno
porque não entra no paraíso,
diz o confessor
como aviso,
não, não sigam esse amor,
repete o confessor,
porque é pecado e merece castigo,
sigam antes o destino
já destinado pelo destino

Mas eu não engulo esse fogo,
por isso sou esta tristeza ambulante,
um ser perdido
no meio da floresta
de abetos,
sou um condor ferido,
não, não quero o meu destino,
não quero esta tristeza ambulante,
quem me mandou ler Dante?

E sonhei que parti,
que parti com o sonho de ser cavaleiro andante,
sonhei que parti sozinho com a desventura
por esse mundo além
à procura do palácio encantado da ventura,
sonhei que cheguei a um castelo
 e que perguntei:
- vive aqui alguém?
e ninguém respondeu,
mas continuei,
subi uma montanha,
desci uma colina,
atravessei um vale,
e vi numa esquina
um ser vivo
e perguntei:
- vive aqui alguém?
e ele respondeu,
- ninguém,
depois atravessei um rio,
transpus um outeiro,
aguentei o sol
e numa árvore
encontrei um rouxinol
a cantar, e cantava, e cantava,
e perguntei:
- cantas sozinho?,
- sim, eu canto sozinho,
também ele!

Mas, quem é que me mandou para este vale?
mas, quem é que me mandou ler Antero de Quental?