sábado, 30 de janeiro de 2016

Canto à dor

Confrange-me a dor,
a minha e a alheia,
ela faz sofrer,
e sofrer é mais confrangedor
quando é dor traiçoeira,
quando é dor que dói
e não deixa cor,
quando é dor
que não diz onde dói,
quando é dor que mói
só para fingir que não é dor

Mas é mesmo dor,
ela aparece enredada em ânsias,
perdas, solidão, desânimos, tristezas,
angústias, medos, fraquezas,
aparece e começa logo a minar as esperanças
de quem sofre,
aparece e não desaparece, é dor teimosa,
e não alivia, e não abranda,
nem com uma poção milagrosa
de valeriana

Coitado do sofredor,
ainda tenta fingir a dor,
"a dor que deveras sente",
mas quando lhe perguntam
se navega na crista da onda,
ele desmente,
desmente e confessa com vergonha
que não consegue domar a dor
que o atormenta

Canta, ó sofredor,
canta a tua dor e o teu pranto,
canta, ó sofredor amigo,
canta, canta, que eu também canto
contigo