quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Homilia

Anoitecia naquela aldeia perdida
num planalto de granito,
chovia e fazia frio,
o sino da torre badalou quase surdo,
foi o sinal de que já estava tudo recolhido
debaixo das telhas de canudo

Não havia luz para iluminar as vidas
e a única telefonia sem fios
da aldeia não tinha pilhas,
a próxima estava a milhas,
só havia notícias
à saída da missa

Depois de comidas
as migas,
deitaram-se os corpos nos leitos de ferro
com colchões de palha e de camisas,
um homem macho e bruto
saltou para cima do corpo aberto
da fêmea mulher e espremeu o seu fruto

O macho homem adormeceu logo,
a fêmea mulher ainda foi amamentar o filho
mais novo,
e assim se apagou o fogo
que ardia no seu interior mais íntimo

Os outros três filhos já dormiam,
adormeceram com frio e a chorar por mimo

Temos que suportar esta vida de sacrifício
para merecermos o paraíso,
pregava o padre na homilia