terça-feira, 27 de setembro de 2016

Ar

Olá, caros leitores
Tive alta do hospital,
já lá estava a mais
e vim para casa
para os braços de outros terapeutas,
a minha mulher e as nossas filhas
Agora apetece-me reconquistar Ceuta
e outras 'melilhas'
mas ainda não recuperei o andar
Continuo maneta
e canto sem parar
Eu não quero
um avc tão severo
quero andar, andar, andar
marchar, marchar

Quando inspiro
entra ar
quando expiro
sai ar,
ar, ar ar, ar
deixem circular o ar,
respirar, respirar, respirar
Deixem soprar o ar
ar puro, ar sujo,
e fujo, fujo, fujo
do pessimismo, da derrota,
deixem de poluir o ar
que eu arfo, arfo, arfo
se me falta o ar
Estou farto, farto, farto
da falta de ar,
deixem entrar o ar por aqui adentro
para eu respirar
e acalmar
a força do vento
que é só ar
por vezes quente e cheio de humidade,
e da chuva
que faz estalar a tempestade,
vento que empurra, empurra
e quebra tudo
mesmo o que se agarra
à terra com raízes de verga dura
com garras e pouca parra

Quero andar,
quero mergulhar
no ar em movimento
e nunca vergar
com a força do vento
que me move
com ais de lamento
sempre que chove
na minha varanda
de cimento
Anda, anda, anda,
tenho medo
do desespero
de ficar só
com a minha voz,
mas não ficarei
enquanto tiver uma Luz
que sempre amarei

Mas tenho medo
da voz do ar seco,
do ar manchego
que respirava o Dom Quixote
sempre a gritar e a ditar
o que estava errado e certo
e ninguém lhe roubou o dote
de grande filósofo a cavalgar
no deserto

Quero o ar
o ar do mar
que ventila
a minha janela
e a varanda
e anda e anda e anda
encostado à cancela
ao ritmo da batuta
da chefe da orquestra