quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A boda dos espíritos

A sala tem uma excelente acústica,
vibra desde o soalho até ao topo,
neste serão vai vibrar com música
clássica allegro ma non troppo

A orquestra já afinou os tons,
na plateia já não há pigarreia,
os dedos dos músicos estão prontos,
o maestro levanta a mão direita

E a orquestra começa a tocar,
os tímbalos marcam a cadência,
tumba, tumba, tumba, a dar, a dar,
e o maestro a perder a paciência

Os tímbalos não abrandam o ritmo,
os violoncelos falham os acordes,
os violinos entram em desatino,
seguindo os oboés e os fagotes

O piano embala uma valsa,
as cordas das violas um flamenco,
o pífaro chama nomes à flauta
e as trompas levantam um pé-de-vento

Uma tuba sussurra que não toca
mais nesta ditadura da batuta,
a harpa quer violar a viola
e a lira delira com o kama sutra

O piano começa a dar pulos,
um violino voa contra o tímbalo,
um contrabaixo só emite urros
e o maestro cai redondo no palco

Todos os instrumentos estão loucos,
os das cordas enrolam os dos sopros,
os dos metais vomitam bicharocos,
os da percussão estão todos rotos

O caos finda quando o gongo anuncia
o início da boda dos espíritos,
os músicos ficam quietos e hirtos
e na plateia começa uma orgia