sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Poema adolescente

Estava acorrentado a uma rocha
quando alguém,
possuído de rezas e de força,
rasgou os ferros
da corrente
e, aos berros,
anunciou um nascimento

Assim nasci,
nasci livre, solto,
mamei, chupei, chorei, rezei,
ri, cantei,
fui bebé, miúdo, garoto,
chateei, encantei

Nasci e cresci
sempre solto,
era franzino, inocente,
era o mais novo,
depois encontrei-me adolescente
e voltaram os ferros,
outros ferros,
com eles rolei pelas encostas,
rasguei os joelhos,
deixei-me ir em águas revoltas,
espantei bichos e feras,
mergulhei em barreiros e lagoas,
encharquei-me nas marés,
remei contra a corrente,
que força! que raiva!,
sempre aos pulos, sempre impaciente,
queria sempre mais

Até que, encostado
a um tronco esburacado,
descansei um pouco,
estava exausto de miragens,
não estava louco,
era só um viajante de más viagens

Foi quando
uma folha caída se agitou,
não havia vento,
a folha era uma voz
- eu sou alguém de que tu precisas,
ó alma adolescente,
sou a musa das premissas
e chamo-me Consequência,
segue-me
e afasta-te da inconsequência

Fiquei agarrado
e amparado