terça-feira, 10 de novembro de 2015

Ansiedade

Tenho cá dentro uma bola de fogo,
arde, arde, arde, e não se apaga,
quando respiro, queima,
quando falo, sai lume,
quando choro, sai lava,
quando durmo, não durmo

Sou fogueira de fogo lento,
dói, dói, dói, e não passa,
se me sento, levanto-me logo e ando,
e ando, e sento-me, e ando,
e ando, e sento-me, e ando,
e ando, e ando e não descanso,
até quando?

Acalma-te, diz uma voz amiga,
acalma-te, acalma-te, isso passa,
e o fogo amaina, amaina,
o lume vai ficando brasa,
a brasa vai ficando cinza

Mas um tição e mais outro tição
chegam-se ao lume quase inerte
e reacende-se o clarão
da fogueira que desperta
e que reclama mais achas, mais carvão,
mais ânsia, mais treva

Acalma-te, acalma-te,
diz-me a mesma voz,
isso passa, anima-te,
virão dias melhores

E a fogueira sem achas
acalma,
ainda crepitam chamas,
mas vão-se apagando,
apagando, apagando,
e apagam-se,
ficam só sinais de fumo branco
e de calor brando

Não voltes a acender-te,
ó fogueira de ânsias,
de tormentos, de angústias,
que não volte a temer-te
e a regar-te com lama ardente,
que nada reste dessas fagulhas
e que continue apenas acesa
a chama da tranquilidade,
aquela chama de vela
que se mantém impávida
no meio da tempestade,
"like a candle in the wind"