sexta-feira, 26 de agosto de 2016

As cigarras

A gritaria
das cigarras
entra na minha enfermaria,
elas arreganham
as suas amarras
com muito tesão,
eu não, eu não,
nem sequer grito,
mas também estou aflito
Se gritasse
não seria ouvido
mesmo se arreganhasse
os dentes do siso

As cigarras
fazem-se ouvir
são chatas
no seu sentir
sentem calor?
também eu
sentem dor?
também eu,
na garganta
e no resto do "corredor"
por onde passa
a massa
do jantar
Elas agarram-se à resina
que é cola com aroma
a terebintina,
eu agarro-me à vida
que ainda me cola
a esta rotina
de doente deficiente a arfar
que perdeu a mola
que o fazia andar

Não, não ouçam
os meus gritos de cigarra
sem resina
mesmo que eles
soem a algazarra
longe da minha janela,
pode ser só tosse
por alergia à flanela
do meu pijama
de pano de vela
esfarrapado pela tormenta

Entretanto na M80
alguém solfeja
I will survive
Assim seja