quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Noite de Natal

Nesta noite apetecia-me
ser menino,
um menino pequenino,
muito pequenino,
tão pequenino como o menino
que dizem ter sido gerado sem pecado
e que foi dado à luz numa gruta
aquecida pelo bafo
de uma vaca e de um burro
lá para os lados de Belém,
o seu pai já era velho
e chamava-se José,
a sua mãe não tinha idade e era virgem,
chamava-se Maria 

Sim, nesta noite apetecia-me
ser menino
como esse menino
que nasceu pobre numa noite como esta,
por sua causa,
alguém marcou na minha frágil testa
de inocente bebé
o sinal daquele artefacto pesado de fé,
de História e de dúvidas,
o sinal da cruz

Que viva esse menino,
esse menino Jesus,
que haja festa,
comam e bebam, não apaguem a luz
nem as fogueiras de Natal,
que haja desafogo e fartura,
não percam a festa
do nascimento de um menino angelical
feito de nuvens de algodão e de açúcar
e que nasceu numa noite como esta,
não, não percam a festa,
empanturrem-se de bacalhau e de peru
e não leiam nem ouçam as notícias
para não estragarem a festa
numa noite como esta,
noite longa e escura,
o sinal do solstício de inverno
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Feliz consoada para todos