terça-feira, 18 de março de 2014

A Senhora Sophia de Mello Breyner Andresen


Gosto de estar no cais quando chove,
a chuva transporta sabores
e odores
que, quando misturados com o mar,
transformam a atmosfera
num ambiente de caldo
que me faz flutuar ...

Talvez porque estes meus versos
também cheiram a maresia,
andam a dizer por aí
que são versos da Senhora Sophia
e não meus

Perguntem, pois, à Senhora Sophia,
que deve andar lá pelos céus,
se os meus versos de maresia
são versos seus e não meus

Perguntem-lhe também
se continua a sentir por lá, no além,
o som dos búzios e do mar
e digam-lhe que nós,
que ainda andamos por cá, no aquém,
sentimos muito a falta que nos faz
a Senhora Sophia de Mello Breyner Andresen

E que descanse em paz,
esteja ela no Panteão Nacional,
esteja ela a aguardar o dia do Juízo Final,
esteja ela nos braços de Morfeu,
e, sobretudo, que sejam glorificados
os seus versos de sal
e a língua em que os escreveu,
a língua de Portugal