quinta-feira, 13 de março de 2014

Poemas perdidos

Eu sempre escrevi poemas,
mas rasguei-os quase todos,
ou porque eram apenas teoremas
ilógicos, ingénuos, toscos,
que equacionavam irresolúveis dilemas, 
ou porque eram pesados relatos
de momentos trazidos pelos ventos
que me deixavam de rastos,
porque esses ventos vinham do sul,
o vento suão, de mau agoiro,
que inspira o absurdo
e que soa como o zunir do besoiro

Por isso não tenho pena
dos poemas que rasguei,
mas já tenho pena
dos poemas que não escrevi
por falta de papel e de pena,
eram palavras suaves e doces
que zumbiam à minha volta
a implorar para eu as escrever,
e eram vozes livres, à solta,
plenas de prazer,
que deixei morrer

Agora prometo
que sempre que me aparecerem palavras
a voar e que me soem como uma canção,
escrevo-as aqui, em forma livre ou em soneto,
a não ser que me falte o coração,
ou a pena,
mas se isso acontecer
não tenham pena