domingo, 5 de abril de 2015

A minha Páscoa

Páscoa significa passagem,
mas alguém sabe como é a outra margem
para aonde se vai por essa passagem?
Será um horizonte de imagens?
Será apenas uma ilusão
que sustenta a nossa falta de coragem
de sermos mortais?
Será que a fé e a convicção
no Juízo Final, e a consequente romagem
ao paraíso, salvam apenas a alma de quem é cristão?

Eu não sei,
e julgo que ninguém sabe,
apenas sei como era a minha Páscoa em criança,
não era passagem, era esperança,
Jesus Cristo ressuscitou, Aleluia, viva a vida, viva a vida,
as paredes da nossa casa estavam caiadas com cal viva
imaculadamente branca,
a sala estava encerada, arejada, alegre,
aí não faltavam ornamentos florais
com cores e cheiros da serra,
tudo para dar as boas vindas às visitas pascais
compostas de personagens adornadas
de tons garridos e carregadas com água benta da cisterna,
beijávamos a Cruz e entoávamos aleluias, hosanas e salmos,
lá fora aguardava uma carroça puxada por uma égua
que transportava uma capoeira cheia de galinhas e de galos

E eu, criancinha, ali de joelhos
a rezar e a esperar que do saco escarlate
dos confeitos saíssem também coelhos,
coelhinhos, ovos, ovinhos, pepitas
e outras ternuras fofinhas de chocolate,
mas não, só saíam confeitos,
e eram tão duros, tão duros, que me feriam as gengivas,
os dentes e os beiços
-----------------------------------------
Desejo uma Páscoa feliz  a todos os meus caros leitores