sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A crise e a queda dos anjos

Mas que grande estrondo,
o barulho vem d´além,
o que terá sucedido?
caiu do céu um anjo, dizem,
mas os anjos também caem?

Caem
porque se queimaram as asas,
ou as cortou alguém,
ou estavam fracas
para o peso do anjo
que se avantajou

Outro estrondo,
outro anjo que caiu
e este ninguém viu,
quem seria o anjo
que caiu e ninguém viu?

Talvez um anjo mais discreto,
talvez mais espírito santo,
talvez mais esperto,
talvez mais rico,
talvez mais saltimbanco,
talvez mais mafarrico

Agora estão a cair anjos,
a seguir caem os arcanjos,
caem todos,
mas todos levantaram voo,
até os marmanjos,
e todos se amanharam

E nós que nunca fomos anjos
nem sofremos de enjoo
de tanto amanhar e voar
não precisamos de cair
porque nunca levantámos voo,
porque fomos sempre anjinhos
e esses não voam

Outro estrondo,
outro anjo que caiu,
este caiu redondo,
estatelou-se
e toda a gente assistiu,
ficou em trapos, em farrapos,
nesse dia ninguém comeu papos
de anjos, não de patos