sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O fim do mundo

Naquela manhã
as árvores da alameda
não davam sombra
e as pessoas caminhavam
e a sua própria sombra
também não aparecia,
e já fazia muito sol,
e ainda não era meio-dia,
e já ninguém aguentava o sol,
mas onde é que estaria
a sombra?
ninguém sabia

Começou o pânico,
não havia sombra,
nada fazia sombra ao sol,
e o sol aquecia, aquecia,
e ainda não era meio-dia,
e já estava tudo a ficar mole,
quase em papa,
mas onde é que estava
a sombra?
nem dentro de casa

E veio uma informação da NASA,
o Sol vai engolir a Terra,
dentro de dias, talvez semanas,
ninguém se safa

O Homem
começou a rezar aos seus deuses,
os animais, os outros, começaram a morrer
mais cedo,
as plantas começaram a secar e a arder,
os rios e os oceanos minguaram de sede,
o Sol começava a ficar mais perto,
meu Deus, é o fim do mundo,
deste mundo já quase deserto

Foi então que o Sol
enviou uma comunicação à Terra
que dizia
"ou o Homem acaba com a guerra,
ou eu acabo com o Homem"
e, mesmo com esta ameaça de morte certa,
o Homem só assinou acordos
temporários de cessar fogo
para se poderem contar os mortos,
para se poderem reconstruir as casas,
e o Homem anunciou ao Sol
que não haveria mais guerra na Terra,
que haveria paz, paz, paz, só paz,
mas o Sol não acreditou no Homem
e, zás-catrás,
engoliu a Terra

Bem feito!,
os terráqueos desapareceram,
bem feito!,
só estavam a estorvar,
disseram os habitantes de Marte
e da Europa,
(sim da Europa, uma das luas de Júpiter),
ao lerem o boletim meteorológico
daquele dia,
do dia em que o Sol engoliu a Terra