segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Um simples relato de Verão

Apanhei um escaldão,
um escaldão muito localizado,
um escaldão no sítio das costas
aonde não chega a minha mão
esquerda e a minha mão do outro lado,
o direito, afinal, o meu creme de protecção
da radiação solar UVA
não é contrafacção,
não é feito de água da chuva
misturado com cinza e sabão,
pois, protegeu toda a juba
das minhas costas aonde chega a minha mão

Mas, nas minhas costas
aonde não chegam as minhas mãos,
uma de cada vez, ou justapostas,
apanhei um escaldão e fiquei encarnado
como a cor da crosta das lagostas
quando são cozidas vivas no tacho

É verdade que sempre tive as costas largas,
mas não chegar a toda as partes
das minhas costas cheias de sardas
com a palma das minhas mãos é castigo,
é um sinal de limitação incompreensível,
só os outros podem tocar nesse sítio,
e eu não lhe chego, está escondido,
bem atrás das minhas costas, inatingível

Apanhei um escaldão e fiquei  a escaldar,
o que me vale são os banhos de água fria
na banheira, e não no mar,
porque assim escaldado e com tanto arrepio,
se fosse mergulhar na água do mar
ficava a praia vazia
de tanto gritar

Escaldado, água fria, escaldão,
vermelhão,
a culpa é do Verão,
mas se eu chegasse com a minha mão
a toda a área das minhas costas
não culparia ninguém do meu escaldão,
para a próxima dou as minhas costas
a quem me quiser dar a mão
para aí espalhar o meu creme de protecção,
mas espero que me passe o escaldão
com este simples relato de Verão