sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Fui aduaneiro

A fronteira é uma linha imaginária
que demarca a língua, a tribo, a nação,
os países, os estados, os clãs, a pátria,
os costumes e, por vezes, a religião

A fronteira é ruptura,
e atravessar uma fronteira
é, por vezes, uma aventura,
e eu fui aduaneiro
e controlava a fronteira,
não toda, apenas um dos seus lados,
porque o outro lado era controlado
por outro aduaneiro
que não estava do meu lado,
porque estava do seu lado

E assim é,
de um lado da fronteira está um aduaneiro,
do outro lado está outro aduaneiro,
mas afinal qual é o lado certo?
o direito, o esquerdo,
ou o que não está à vista?
"para mim, qualquer lado é o certo",
conclui o contrabandista

E eu fui aduaneiro
e nunca percebi as fronteiras,
do outro lado falam diferente,
têm mais dinheiro, têm mais gente,
têm outras maneiras,
mas no meu lado são estrangeiros
e eu no lado deles estrangeiro sou

E eu fui aduaneiro
e nunca percebi as fronteiras,
olhem os peixes, as aves,
os ratos, os cães vadios, as toupeiras,
andam sempre em viagem
e a cruzar fronteiras,
mas nunca mostram o passaporte,
nem a bagagem,
nem o seu meio de transporte

- Alguma coisa a declarar?
- Sim, eu, que sou uma coisa.
- Está bem, pode passar,
mas para a próxima vou desconfiar

E eu fui aduaneiro
e gostei,
gostei muito,
mas nunca percebi as fronteiras