quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Os guarda-chuvas de Hong Kong

Aparece um, dois, três, dezenas,
aparecem mais,
em pouco tempo já são centenas,
milhares,
são multidão,
gritam, pulam, cantam, choram,
dançam, são figurantes de cenas
de histeria colectiva,
e para onde olha um, olham
todos os outros
e acabam por ter todos a mesma objectiva,
pode ser um jogo, uma cerimónia, uma manifestação,
um fenómeno natural, ou algo paranormal
como um milagre, uma visão ou uma aparição

E da multidão
sai uma força contagiante
de devoção, de emoção, de comoção,
que não deve ser contrariada,
mesmo quando essa força é cega, sem razão,
mesmo quando essa força suporta facínoras,
e um só com razão no meio dessa multidão
corre o risco de ser linchado
se não seguir também a multidão

E todos nós somos multidão,
raramente dizemos não
a quem nos domina, a quem nos controla,
a quem organiza a multidão,
e se alguém diz não, é tresmalhado, só,
mas quando a multidão
diz, em uníssono, não,
quando toda ela é livre, rebelde,
surge logo o controlador com ar sério
e põe a trabalhar os canhões de água, o cassetete
e as bombas de gás lacrimogéneo

E a multidão foge, dispersa,
não luta,
e dos milhares, resta cada um,
e nada muda

Mas olhem hoje para Hong Kong,
a multidão de Hong Kong
que não desiste da luta,
é uma multidão de juventude
que se abriga da chuva
com guarda-chuvas,
querem apenas democracia
em Hong Kong e, também, na China

Viver com a democracia,
esse valor do chamado Ocidente,
é, apesar dos defeitos, uma alegria,
eu gosto dela, eu vivo com ela,
que não desista a juventude
de Hong Kong e da China,
não façam como os dirigentes
democratas do Ocidente
que visitam o poder ditador da China
só com interesse nos negócios
e esquecem a dor e a chacina
dos que aí lutam pela democracia

Jovens de Hong Kong,
não fechem os guarda-chuvas,
chova ou faça sol