quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Nas faldas da minha serra

Nas faldas da minha serra,
aqui onde eu sou,
cresce o alecrim, o orégão, o rosmaninho,
o tojo, a moita, o carrasco e o pinho,
e respira-se maresia
quando o vento vem do mar,
do mar que ainda está longe,
mas que já se anuncia
mesmo no fim do horizonte

Nas faldas da minha serra,
cobertas pelo intenso garrigue
e onde a cigarra, sempre aflita,
berra e berra e berra,
viveram os meus antepassados
e aí ficaram acomodados,
para sempre,
em silêncio e em paz

Nas faldas da minha serra
passeio eu agora
na cadência do tempo
e dos sons do horizonte,
e calcorreio os caminhos
que serpenteiam o monte
entre fragas e espinhos,
e pergunto-me se o ar
que agora respiro
não será o mesmo ar
que respirava em menino,
e passeio e anseio
e pergunto-me se o meu destino
não estará traçado,
se não ficarei também
para sempre acomodado
em algum cerrado
ao pé da minha serra,
a leve e ondulada Serra d'Aire