Ao Ary dos Santos
Espalhaste as amarras
e cuspiste fogo dos teus olhos
flamejantes,
foste poeta lume e de farras,
poeta de versos aos molhos
com amantes
Foste poeta comprometido
com a foice e o martelo
e com palavras de ferro fundido
forjadas na forja do ferreiro
mais feérico
Foste poeta arrepio,
poeta gordo de poesia,
poeta sufoco,
poeta com o cio,
poeta fogo
Não foste poeta castrado,
nem poeta impotente,
mas levou-te a morte apressada
que bebeu o teu corpo farto
de ambrósia ardente
Morreste poeta feroz,
mas continuo a ouvir a tua voz,
voz destilada, voz rouca de riso,
ó Ary, envia-me a tua morada
do paraíso