segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O Inverno

Inverno, invernia,
esconde-se o melro no silvado
e foge o coelho para a toca,
a chuva bate forte no telhado
e alvoroça a galinha choca

Inverno, invernia,
fustigam os ventos nos vales
e abanam a azeitona madura,
cobrem-se as velhas com xailes
e o dia é quase noite escura

Inverno, invernia,
agasalham-se as ovelhas com lã
e muda-se a cama do seu curral,
enche-se a lagoa e cresce a grama
que alimenta o rebanho e o pardal

Inverno, invernia,
sofrem ainda mais os que estão sós
e os que se agarram à melancolia,
mas os rios chegam mais depressa à foz
e o castanheiro não verga com a ventania

Inverno, invernia,
e eu à lareira com os pés quentes
a ver o Verão nas achas a arder,
diz-me ó rouxinol o que sentes
quando não vês o sol a nascer

Inverno, invernia,
chove chuva pesada e fria,
ao menos que caísse neve
que nos daria mais alegria,
ao cair branquinha e leve

Inverno, invernia,
socorre-me ó deusa da aurora
que o meu coração quase hiberna,
manda o duro Inverno embora
e traz-me já a doce Primavera

E eis o inverno