sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Diga-me quem souber

Diga-me quem souber
aonde irei ter
quando sentir que o chão
me está a fugir,
quando já não ouvir
o meu arfar, o meu coração,
quando escorregar para o abismo
do fim,
quando me enfiarem no buraco
do destino

Porventura,
ouvirei uma voz seca e cavernosa
a ordenar-me com cínica doçura
"vem, vou levar-te nesta carroça,
 fica quieto, a viagem será curta"

Porventura,
voarei nas asas de um querubim
depois de passar pela sepultura
apenas para tirar o bilhete de ida
para uma viagem celeste sem fim

Porventura,
serei separado em dois,
um ficará a chamejar,
o outro aguardará o depois,
o que vier a reencarnar

Porventura,
algo fará parar o meu coração
e nada a fazer, não tem cura,
e depois nada, e depois nada,
apenas um corpo, um corpo vão

Porventura... Porventura...
não, não adianto mais hipóteses,
não, não me consumo mais,
mas se alguém souber,
por favor, diga-me,
mas não me consumo mais