quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

- Momentos de uma viagem -
O tempo

Muitos anos depois,
já maduro,
volto ao mesmo sítio
e sento-me no mesmo muro
a contemplar a mesma cidade,
o mesmo lago, o mesmo rio

Está tudo na mesma,
menos eu que estou assim,
o tempo não passou pelas coisas,
mas passou por mim,
passou e deixou mossas

O tempo,
sempre o tempo,
mas onde estive eu
no meu tempo
que passou?

Não respondo,
é uma maçada,
o tempo está bom,
levanto-me, subo a calçada
e aperfeiçoo o tom
da minha balada,
a balada do tempo que passou

Chego
ao cimo da calçada
e esmoreço,
mas procuro o favor do vento
e desço a mesma calçada
para passar o tempo,
mas não mudo de balada,
nem de andamento,
não, não volto a subir a mesma calçada,
viro à esquerda e sigo o rio,
uma ponte, outra ponte,
mais pontes,
acabou a cidade,
o rio continua para o horizonte,
eu volto para trás, pelo outro lado,
e contemplo outra vez o lago
a abastecer o rio e a desejar-lhe
uma boa viagem e um bom fado

Cai a noite, o escuro
invade-me e deixa-me sentado
no mesmo muro,
estou a ver o mesmo lago,
estou a ver o mesmo rio,
não tenho fome, não tenho frio,
deixo-me estar,
só estou a tentar matar o tempo,
mas acho que não o matei,
ele é que me está a matar
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Um feliz 2015 para todos