domingo, 11 de janeiro de 2015

- Momentos de uma viagem -
Tirem-me o niqab

Sou uma jovem árabe,
sou de tez morena, sou bela,
sou um amor
e já entrei há muito na puberdade,
o meu corpo é calor,
é entusiasmo, é alegria, é orquestra
afinada,
mas só posso sair com o niqab
e assim ninguém vê a minha beleza,
porque o meu corpo,
o meu sangue, o meu coração, o meu choro,
estão cobertos de cor preta,
e assim ninguém me vê e ninguém sabe
que sou bela,
e é preto o meu niqab,
tirem-me o niqab

O meu irmão também é belo
e sai à rua de cara ao léu
e de peito destapado,
o meu irmão é muito belo
e a minha amiga,
que também é muito bela,
gosta dele,
mas ele só vê os olhos dela,
peca se conseguir ver mais,
a não ser que se case com ela,
mas ele não sabe se gosta dela
porque é preto o seu niqab,
tirem-lhe o niqab

Tirem-me o niqab, deixem-me ver,
deixem-me respirar,
deixem-me ser bela,
deixem-me viver,
mas vou ter que casar,
o meu pai diz que vou ter que casar
com o meu primo,
o meu primo velho e que cheira mal
e que já me viu sem o niqab,
vou casar
com o meu primo velho e que cheira mal,
só ele me vai ver sem o meu niqab,
só ele me vai ter virgem, nua e animal,
sim, nua e animal, mais nada,
afinal, vou casar com o meu niqab,
por favor, tirem-me o niqab

Tirem-me este trapo
que me atrapalha,
tirem-me este farrapo
que me esfarrapa,
que me faz doer,
tirem-me o niqab,
não me quero esconder