terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Eu, o meu irmão e o nosso burro

Naquele dia
eu ia a cavalo no burro
e o meu irmão atrás
a picá-lo,
arre-burro, arre-burro,
e o burro aos coices
e eu, ainda pirralho,
a agarrar-me à albarda
para não me estatelar
na estrada de cascalho

Ai que engraçados,
berravam os homens da aldeia
tontos de vinho e de caldos de couves,
feijões, abóbora e nabos,
caldos bem salgados e besuntados
com toucinho amarelo
e couratos ainda com pêlo

E eu, ainda um pirralho,
sentia-me mal a cavalo no burro
em cima de uma albarda
já rota por tanto uso,
e aqueles homens a fazerem pouco,
a fazerem pouco de mim,
e eles riam-se, e riam-se, e riam-se,
e eu a cavalo no burro
quase a chorar,
isto tudo num dia de entrudo,
e mais ninguém naquela aldeia
jogou o entrudo naquele dia,
só eu, o meu irmão e o nosso burro