terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

- Momentos de uma viagem -
Os desembarcados de Lampedusa

Ferrovie dello Stato, Milano Centrale,
edifício colossal,
imenso, imponente,
mas é feio, muito feio,
por dentro e por fora,
tem muitos comboios e muita gente
e, num recanto, vejo
muitos jovens e crianças na fila
para receberem um pão com queijo
e uma garrafa de água,
têm rostos tristes e desamparados,
estão em silêncio,
eles são os desembarcados
de Lampedusa

Na parede desse recanto
está afixado um mapa da Europa
e alguém explica as suas fronteiras
e como seguir a rota
para o este, para o oeste, para o norte,
mas talvez ainda ninguém lhes disse
que para se sair dali, daquele forte,
é preciso atravessar túneis, muitos túneis,
para se atingir o este, o oeste, o norte
desta Europa confusa
que não sabe como enxugar as lágrimas
dos desembarcados de Lampedusa

E que me valha a minha alma lusa
moldada na diáspora e na saudade
para conseguir entender as desventuras
destes desembarcados de Lampedusa,
saltem daí, vão de assalto, vão às curvas,
cruzem os vales e os montes,
saltem, saltem, saltem