segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Bom dia a todos

Os meu versos surgem-me. Não sou eu que os procuro. São momentos da minha existência. E se não os escrevo logo, perdem-se. Raramente corrijo os versos. Escrevo-os como me surgem. Talvez por isso, acho que são muito ingénuos.
Uma vez, durante um velório, escrevi isto:

Ensaio sobre a morte

Reparem
a morte é sempre a dos outros
nunca é a nossa
porque quando for a nossa
ela só é nossa
porque os que ficam vivos o dizem,
sendo que os vivos
continuam vivos,
não para sempre, é certo,
e os mortos
estão mortos para sempre,
o que também é certo.

E quando morremos
apenas alguns de nós têm tempo
de dizer "vou morrer"
e nunca alguém vai dizer
"morri"
pois são os que ficam vivos
e que nos olham mortos
que vão dizer que morremos.

Por isso
a morte é sempre a dos outros
e é apenas a morte
nada mais do que isso.

Mas,
porta-vozes dos entes celestiais
continuam a pregar na Terra
que todos os corpos têm alma
e que quando ela se desliga do corpo
fica a aguardar no etéreo
pelo dia do Juízo Final
enquanto o corpo fica arrumado
no cemitério.

E também dizem
que essas almas
serão recompensadas
no dia do Juízo Final
do bem que fizeram,
e não do mal,
enquanto transportaram
um corpo na Terra.

E é por isso
que quando a alma se desliga do corpo
os vivos acendem velas em seu redor
para apaziguar a dor
e neste ambiente de velório
encomendam a alma ao criador
implorando-lhe que a leve para o paraíso
sem passar pelo purgatório.

E aqueles porta-vozes garantem
que as almas que praticaram o bem
enquanto transportaram um corpo na Terra
vão mesmo para o paraíso sediado no além.

Por vezes pergunto-me
se não faltará o juízo
a estes seres terráqueos
que esperam ir viver para o paraíso
como batráqueos,
ou como qualquer outro animal sem dor,
ou será que no paraíso, no além,
somos todos feitos de vapor
(reconheço, porém,
que enquanto o homem é vivo,
precisa de um deus, seja ele qual for)