segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Despedida da Alfândega de Lisboa, a mui ilustre Senhora

O Tejo nasce na Serra de Albarracin
e os indígenas chamam-lhe Tajo
e, por entre montes e outeiros,
corre por aí abaixo
até chegar a Lisboa

E é em Lisboa que o Tejo entra no mar,
e na ânsia de querer ser sempre Tejo,
mesmo mar adentro,
ainda simula que é mar
antes de nele entrar,
até parece que é o mar que desagua no Tejo
e não o Tejo no mar

E foi nas margens deste Tejo quase mar
que encontrei um dia uma mui ilustre Senhora
que morava em Alfama, no Terreiro,
e que me ensinou a ser adulto e a trabalhar

E agora que sou quase mais do que adulto,
chegou a hora de me ir embora
e se virem por aí essa mui ilustre Senhora
digam-lhe que lhe estou muito grato por tudo

Muito obrigado também
caros colegas aduaneiros,
bem hajam,
vou deixar de os ter por companheiros,
mas levo na minha bagagem
a vossa amizade e camaradagem

Adeus a todos...Adeus terminais do Rio Tejo,
agora dispo a farda e vou para a "peluda",
talvez ainda aprenda a tocar realejo,
ou a escrever como o Neruda

Ou então vou contar grilos na primavera,
gaivotas e cigarras no verão,
vou para a vindima no outono
e no inverno apanho azeitona

De manhã levanto-me e corro,
à tarde durmo a sesta e ressono,
à noite enfio as pantufas e o gorro,
e de madrugada sonho que tenho sono

E no pouco tempo livre que resta
vou tentar continuar a apreender
e a seguir o cheiro do alecrim e da giesta
até que o sol e a lua me deixem ser