sábado, 26 de julho de 2014

Doces conventuais

Agarra um camelo,
dos verdadeiros,
dos que marcham no deserto
sem beber

Agita-lhe os tomates
com muita força,
e recolhe em latas
o que lhe sai pela boca

E tens a baba de camelo,
a verdadeira,
não a falsa, a do leite condensado,
das gemas e das claras em castelo,
só calorias e caganeira

E se não te dão baba de camelo,
da verdadeira,
também não aceites toucinho do céu
nem barriga de freira

Porque o toucinho não cai do céu,
nem a barriga de freira é de aluguer,
é tudo para enganar a fome ao ingénuo
e encher-lhe a barriga de merda

São apenas doces conventuais,
diz-me o pasteleiro besuntado
de manteiga, de açúcar mascavado
e de restos de outros minerais

E diz-me também o mesmo pasteleiro
besuntado que os que comem doces
não protestam, com pouco dinheiro
sentem a barriga cheia de nozes

Mas eu prefiro a tigelada de sericaia
feita com amor, rigor e verdade,
lá nas terras alentejanas do Caia,
não engana, nem os tolos, nem a idade

E o pasteleiro besuntado e convencido
prepara todas as noites a massa dos bolos
que só servem para enganar os tolos
que são pobres e julgam ter vida de rico

E voltamos ao camelo
do deserto,
a esse não lhe vão ao pelo,
é esperto,
alomba com as cargas,
mas se decide parar, pára mesmo,
e não há mais frete,
a carga que vá às costas
do diabo que a carregue