quarta-feira, 23 de julho de 2014

O ovo

A fêmea galinha põe o ovo
sem dor,
até cacareja,
e se o ovo tem, ou não, pintainho,
depende da arte do macho galo,
que é o dono da capoeira,
e se o macho galo galou bem a fêmea galinha
basta o ovo ficar bem choco
para dar um pinto ou uma pinta

Mas, coitada da fêmea mamífera,
até pode ter gozo
quando é fecundado
o seu ovo,
ou, pelo menos, pode sentir o gozo
do mamífero macho
quando ele é fecundador,
o problema é parir sem dor
o fruto desse gozo

Ainda se fosse
como o ovo da galinha já choco,
em que o nascituro só tem que partir
uma ténue casca de ovo
para ver a luz do dia

Mas não é,
o nascituro da fêmea mamífera
rasga tudo
até lhe darem a ver a luz,
rasga o ventre, o tubo,
as paredes das margens,
rasga também a foz,
e depois de estar cá fora
chora, chora, chora
até lhe darem de mamar

E assim é,
enquanto a galinha
não sofre nada
para ter a sua ninhada,
a fêmea mamífera
sofre horrores para parir
e ainda por cima não descansa,
pois tem logo que dar mama

Apesar de tudo, quem fez isto assim
até o fez bem feito,
imaginemos o que aconteceria
se, mesmo com a fêmea a jeito,
o macho fecundador
não tivesse gozo
quando fecunda o ovo,
seguramente que do ovo
nunca sairia nem pintainho,
nem porquinho,
nem qualquer outro miminho