segunda-feira, 30 de março de 2015

Partir

Gostava de partir em silêncio
num dia de chuva
envolto numa nuvem de incenso,
de nevoeiro, de bruma,
gostava de embarcar no tempo
e navegar sem rumo
através do mar imenso
e acostar somente
quando o meu pensamento
precisasse de assentar
apenas por um momento
para se eternizar em alimento
de viagens feitas só de partidas,
de viagens em que chegar
e partir é o mesmo momento,
de viagens em que não se parte
de lado nenhum,
de viagens em que não se chega
a lado nenhum

Gostava de partir de um cais suspenso
que não tocasse este chão,
este chão de onde sou,
assim embarcaria no tempo
sem partir de lado nenhum,
mas dizem-me que um cais suspenso
tem que ter um ponto de apoio
no chão,
mas eu quero partir em suspenso
daqui onde estão
as minhas raízes e o meu berço,
eu quero partir sem tocar neste chão,
quero partir, mas em suspenso

Sim, quero partir em suspenso,
mas sei que assim não posso partir,
portanto, vou ficar,
fico agarrado ao chão a que pertenço,
fico, mas fico a viajar