sexta-feira, 27 de março de 2015

Ser resiliente

Na minha aldeia,
as gentes não falam de outra coisa,
só falam da resiliência:
faz frio, há que ser resiliente;
não chove, há que ser resiliente;
chove de mais, há que ser resiliente;
não tens emprego, tens de ser resiliente;
no domingo não há missa, o pároco não é resiliente;
a geada queimou os grelos, faltou-lhes a resiliência;
as cabras da Emilha comeram os nabos
da Patrocina, esta tem de ser resiliente

Tive que ter alguma paciência
para perceber por que razão
aquelas gentes falam em resiliência
como se fosse pão

Teriam assistido a alguma peça de teatro
no salão da capela?
Teriam assinado algum vantajoso contrato
para deixarem extrair a resina da floresta?

Mas percebi o que se estava a passar,
é que o Ti João,
aquele que tem muito para gastar,
foi ao balcão
do seu banco habitual,
que agora até lhe chamam Novo,
para levantar os juros do seu capital,
e disseram-lhe para ter calma,
nem há juros, nem há dinheiro,
o senhor perdeu tudo, comprou papel comercial
do grupo BES
e agora nem para limpar o traseiro
ele lhe serve

E, para que não caísse doente,
aconselharam-no a ser resiliente
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Viva o Dia Mundial do Teatro