quarta-feira, 18 de março de 2015

Dissuasão nuclear

Eu, Francisco Holanda,
e o meu vizinho do outro lado do Canal,
o David Camarão, dissuadimos como Deus manda,
temos quinhentas cabeças nucleares
com validade até dois mil cento e tal,
podem mandar pelos ares
mais de cinco mil hiroshimas,
alguns dos nossos submarinos
estão equipados com mísseis,
tendo cada um três daquelas cabeças,
se os dispararmos, atingirão até seis mil
quilómetros, e poisarão, direitos ou às avessas,
no sítio que se definir,
e depois explodem:
oh, oh, oh, oh, oh, ohou,
vejam como é belo
aquele clarão que se transforma em cogumelo,
oh, it´s so beautiful the mushroom cloud,
oh, comme il est beau le champignon nucléaire

E tu, Buraco O'Bama,
dissuades com cinco mil cabeças nucleares
prontas a virem-se sem qualquer esforço,
dominas os ares e os mares,
a tua armada terrestre é um colosso,
admiramos-te, és o mais forte, não te faltam dólares

E eles, os russos e os amarelos,
dissuadem com dez mil cabeças nucleares,
algumas já estão com bolor
e outras com farelos,
é da humidade e das tempestades,
também da falta de calor
nas estepes, tundras e taigas,
mas deixemo-nos de cuidados,
se elas explodirem por falta de manutenção
explodem só lá e deixam tudo em cacos,
não restará nada, só o chão,
morrerá tudo o que mexe,
até os ursos que andam por aquelas bandas,
os brancos, os pardos, os pandas
e os de neve

Funciona assim a nuclear dissuasão,
nós temos, tu tens, eles têm,
temos muitas armas nucleares,
umas de plutónio, outras de plutão,
mas os outros não as podem ter,
não podem, não, não e não,
nem Israel, nem a Índia, nem o Paquistão
e muito menos a Coreia do Norte e o Irão,
o quê, ó Buraco? dizes-me que já as terão?
credo, já estou a ter medo, a tremer,
é que nós só as queremos ter
para se saber que as temos
e só as usaremos
como último recurso para nos defendermos,
nunca servirão para atacar,
enquanto os outros querem-nas ter
apenas para matar

O quê? Não estão a perceber?