quinta-feira, 5 de março de 2015

Em São Martinho do Porto

Naquela tarde em São Martinho
o tempo voltou-se para mim a sorrir
e mostrou-me o meu corpo de menino
a rebolar na grande duna de Salir

Naquela tarde em São Martinho
tive saudades de mim, menino,
quando via as traineiras cheias de sardinha
a entrarem na baía à tardinha

Naquela tarde em São Martinho, ao pé do mar,
quis voltar a ser menino,
mas o tempo disse-me que não, nem pensar,
fiquei triste, descoroçoado, sozinho,
ainda tentei auscultar o mar,
mas não percebi o seu linguarejar

E o sol, o que me dirá o sol?
virei-me para ele, mas nem o pude olhar,
encadeou-me, cegou-me, não teve dó,
nem sequer me deixou falar

Acabou a tarde em São Martinho,
a noite invadiu a baía em sossego
e não ousei pedir à lua para me alumiar
quando ela se anunciou de mansinho,
aconcheguei-me na minha concha triste e quedo
e pus-me a cismar,
senti-me menino a ansiar por um brinquedo