sábado, 12 de abril de 2014

São doidos, doidos, doidos

Peço-vos encarecidamente,
não me atentem hoje,
estou virado do avesso,
estou indigente,
estou trouxe-mouxe,
estou desesperadamente burgesso,
é que estão a cair-me em cima
vapores tóxicos solidificados
soprados por ventos agrestes
que trazem imagens de guerras cruéis
em muitas partes do mundo 

Não entendo os homens,
fazem as guerras, estropiam-se,
destroem, incendeiam, matam-se,
e depois de tudo acabado
divertem-se a escrever e a estudar
o que fizeram, o que estragaram,
dizem que é História
(de facto, a História pouco mais é do que relatos
de guerras sucessivas entre conquistadores
e conquistados),
mas eu acho que eles são é doidos, doidos, doidos,
e o pior é que se esquecem
e voltam a fazer o mesmo,
são doidos, doidos, doidos

Por isso, quero fugir das notícias,
não desejo presenciar a História
agora,
quero antes ver as borboletas
e o seu voo colorido,
que belas,
devem ser muito felizes,
gostava de ser como elas,
quero antes ver os melros,
o melro é um pássaro belo,
veste de preto
e tem o bico amarelo,
esconde-se nos silvados
e não nos diz onde tem o ninho
que faz com "mil cuidados",
canta sempre que levanta voo,
e que bem que canta o melro,
o melro é um pássaro bom

E porque não desejo presenciar a História agora,
quero fugir
das notícias que mostram quem chora
por causa da loucura dos homens,
dos seus caprichos, dos seus devaneios,
quero fugir
das imagens dos voos dos bombardeiros,
essas sinistras aves pretas,
vou antes para o campo ver o voo dos melros
e das borboletas
e aguardar a vinda dos gnomos
que costumam aparecer nos meus sonhos