sexta-feira, 23 de maio de 2014

O homem de pedra

O homem é de pedra
como a pedra que ele quebra
na pedreira
com os braços e picaretas
e marretas
na pedreira

Ele tem a pele escura
com rugas bem cavadas,
cheira a pó e a bagaço,
é de falas curtas e vagas
e o seu olhar é baço
como a luz de uma caverna,
é um olhar de cansaço
e de vapores de taberna
onde ele afoga as tristezas
em copos de ilusões
que lhe fazem ver o mundo
ao contrário,
mas nunca perde o rumo,
nunca perde o caminho que o conduz
à pedreira de calcário

E ele pensa
que a vida sem o cheiro do pó
da pedra
não vale, não compensa,
mas ele só tem paciência para estar só
e não medra

É assim o homem da pedreira,
é rijo, é seco, é de pedra,
e parece que não quebra, mas quebra,
quebra a pedra na pedreira
e quebra também o seu coração,
que não é de pedra, mas de manteiga