quinta-feira, 12 de junho de 2014

A noite de Santo António

O Santo António é santo,
e diz o povo que merece tanto
ser santo,
que não é só santo,
é um santo popular,
e se fosse só António
não tínhamos o Santo António,
e o que seria de nós
sem o nosso querido Santo António

E eu aprovo,
o Santo António é mesmo nosso,
é um santo do povo,
é adorado, é rico,
é casamenteiro,
merece uma quadra num manjerico,
até podia ser o padroeiro
de Lisboa, mas não é,
é só santo popular
e milagreiro

Como padroeiro
o povo não destronou
o mártir São Vicente
que é de fora, de Saragoça,
mas também é cá da gente,
não por ser popular,
mas por ser mártir,
e também por ser o dono da Freguesia
de São Vicente de Fora
que nada fez até agora
para acabar as obras de Santa Engrácia

E para espairecer um pouco,
vou subir à Freguesia da Graça,
que era de Santo André e de Santa Marinha
(mais um santo e uma santa),
e que era a que tinha mais graça,
mas que, por causa da austeridade,
foi integrada agora
na Freguesia de São Vicente de Fora,
e com isto já estou baralhado,
pois não sei o que vim fazer à Graça,
nem o que estava a fazer em São Vicente de Fora
(a palavra austeridade deixa-me desorientado)

Esperem, já me recordo,
estava a falar do Santo António
(esqueçam agora o São Vicente de Fora),
que viva, pois, o Santo António popularucho
e, em honra dele, vou-me já daqui embora
e vou encher o bucho
de pipis, de moelas e de outros miúdos,
cheios de paprica e de outros unguentos,
ou de sardinhas assadas
em fogareiros ferrugentos
e cheios de carvunça,
e vou beber vinho à tripa-forra
feito das uvas das encostas da Maunça,
e que vivam todos os santos populares
e que nos perdoem esta bagunça,
que vivam todos, que nenhum morra
e que se mantenham hirtos nos altares
e que livrem Lisboa
das penas de Sodoma e de Gomorra,
e que viva a vida boa,
que viva o Santo António,
e se ainda tem milagres na cartola
que os faça aqui em Lisboa
e não em "Padova"