sábado, 14 de junho de 2014

O Pentecostes de um contabilista

E ao quinquagésimo dia
desceram línguas de fogo
sobre o contabilista
e ele, sem saber como,
começou a subtrair da lista
as dívidas de milhões
e a inscrever no seu lugar lucros
que também desceram
em línguas de fogo
nos luxemburgos

- Foi o Espírito Santo que fez isto -
disse o contabilista,
já sem o efeito do poder
das línguas a arder

Mas desceram outra vez
umas línguas de fogo
sobre o contabilista,
e ele, sem saber como,
disse que subtraiu da lista
um montante de milhões mal gasto
e de outros milhões
de crédito mal parado,
não com o efeito das alucinações
provocadas pelas línguas de fogo,
mas por causa de umas línguas de gato
que trincou e lhe provocaram comichões
e muitas confusões

Não se riam, não se riam,
isto pode muito bem acontecer
a qualquer pessoa de boas intenções;
experimentem comer línguas de gato
com torrões de amendoim,
daquele muito salgado

Não se riam, não se riam,
e aperitivos salgados
é o que mais há,
há-os em toda a parte
e para todos os palatos,
alguns servem-se bem quentes,
outros frios, outros gelados,
uns estragam os dentes,
outros rebentam a boca,
mas são todos salgados
e se forem feitos à base de pimenta
ainda provocam mais comichão,
sobretudo se forem servidos gelados
no rabo,
primeiro sabe a refresco,
mas depois arde, é fogo, é fogo,
como as línguas de fogo

Foge contabilista, foge,
põe-te ao fresco,
dá corda aos sapatos
antes que sejas outra vez enrabado
por um aperitivo salgado
servido gelado e apimentado,
e protege sempre as tuas costas,
mesmo no dia de Pentecostes