sábado, 7 de junho de 2014

Mostrem-me

Perdi o tino
com um copo de vinho
e com mais um copo de absinto
perdi o juízo,
com um copo de vinho
e com um copo de absinto
perdi também o paraíso
e perdi também o sono
com um copo de sonho,
minto,
foi com um copo de absinto
e com um copo de vinho
que perdi o sono
e o sonho

Agora que perdi o juízo
e o paraíso
com um copo de vinho
e com um copo de absinto,
agora que perdi tudo
e que já não tenho nada a perder,
mostrem-me tudo,
que eu também vos mostro tudo,
mostrem-me o que é belo,
mostrem-me o que é o céu,
mostrem-me tudo como se eu fosse
o mais importante néctar de um doce,
mostrem-me o vosso sangue a ferver,
mostrem-me o que fazem quando se sentem a morrer,
mostrem-me como explodem quando têm prazer,
mostrem-me como comem o pão que o diabo amassou,
mostrem-me como jogam p'rá valeta a esperança do amanhecer,
mostrem-me como se alegram com o som do galo que cantou,
mostrem-me como se elevam quando caem no entorpecer
das drogas leves ou pesadas,
mostrem-me como...como...como
conseguem ter asas

Está bem,
já sei que não me vão mostrar nada,
eu também não vos mostrei quase nada,
fica tudo escondido para nosso bem,
e eu vou esperar que me passe o efeito deste delírio,
e, para a próxima, não digo a ninguém
o que me apetece ver quando alguém me dá de beber
um copo de vinho e um copo de absinto